DO PANSEXUALISMO AO OUTRO SEXO
Marcelo Veras *
Judith Butler
A partir dos anos 80, começou a ganhar espaço cada vez maior, sobretudo no ambiente universitário americano, a Queer theory. Dentre os diversos e heterogêneos aspectos da sexualidade abordados pela nova corrente, chama atenção a ruptura proposta entre o binarismo masculino/feminino e a abordagem da sexualidade completamente oposta à clássica sentença de que o destino do sexo é a anatomia. Judith Butler é, sem dúvidas, um dos mais conhecidos expoentes.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2002000100009
Apesar de ser frequentemente chamada de pós-feminista, ela mesma recusa esse rótulo e prefere ser chamada de feminista, por reconhecer que há, ainda, muitas situações em que as mulheres precisam dessa identidade para superar as dificuldades econômicas e culturais. Embora seja próxima da psicanálise, o que lhe incomoda sobre a questão dos transgêneros é o modo como eles são patologizados pela psicanálise. LEIA MAIS...
O filme “Uma nova amiga” do diretor François Ozon que estreou há pouco tempo em São Paulo, estando ainda em cartaz, é bastante fecundo para as reflexões que hoje têm lugar na psicanálise lacaniana. Para citar apenas alguns destes temas, podemos salientar: a imagem do corpo, a questão do gênero, as formas através das quais, hoje, é exercida a sexualidade, os lugares de pai e mãe, a amizade entre as mulheres, etc. Há também o tema do crossdresser em relação ao qual podemos encontrar um bom número de textos e pesquisas realizadas por setores da cultura os mais diversos. LEIA MAIS...
UMA NOVA AMIGA
Maria Cecília Galletti Ferretti *
O CORPO EM DISPERSAO - FRANCESCA WOODMAN *
Bianca Coutinho Dias **
Francesca Woodman criou extensa obra fotográfica e produziu, em sua maioria, fotografias em preto e branco nas quais se autorretratava em paisagens diversas: sua casa, jardins, construções abandonadas, florestas. São imagens densas, vertiginosas e que nos fazem viajar por abismos e destroços insondáveis, provocando uma sensação de estranha familiariadade, com sua presença de força indescritível, que atrai e seduz, sem que possamos apreender ou reter aquilo que passa diante dos olhos, que permanece como um vulto poderoso e enigmático, assim como sua vida-curta, intensa e rodeada de enigmas.
Em muitas de suas fotografias, opera com desfocamentos e longas exposições, de forma que os corpos fotografados acabam por se fundir e, mesmo quando as imagens são nítidas, os corpos e objetos parecem estar sempre se procurando, em constante processo de infiltração-planta e corpo, luz e carne, chão e pele, arquitetura e vida, vestígio e presença. Abandono e habitação convivem de maneira profunda e, por vezes, convulsiva. São fotografias de escombros e a própria dimensão da ruína que se atualiza no corpo.
FRANCESCA WOODMAN - SEM TÍTULO (NEW YORK) 1979-1980 - IMPRESSÃO DE PRATA COLOIDAL 21 X 21 CM
Silvia Salman (2011) apresenta em seu depoimento "El mistério del cuerpo que habla”, a experiência da análise como uma experiência de corpo, em que o significante não se encontra remetido somente à estrutura da linguagem mas está, de acordo com o ensino de Lacan, enganchado ao corpo.
Em seu testemunho revela que manteve com o seu corpo uma relação de inquietante “estrangeirice”, denotando o que Lacan (1975) situa, a partir de Joyce, que o parlêtre tem um corpo e não é um corpo. Isto indica um afeto que não se reduz a um efeito de sentido, uma vez que o fato de ter um corpo não implica que o sujeito se faça representar por um significante em relação a outro significante. Este é o motivo pelo qual cada um terá que dar conta de alojar o corpo dentro do discurso, ponto que a psicanálise opera e que o testemunho de Silvia Salman ensina. LEIA MAIS...
LETRA ENCARNADA
Maria Fátima Pinheiro*
Ariana Page Russell, fotógrafa norte americana, de renome internacional, como podemos ver no site que veicula seu trabalho, fez aparições recentes que incluem o Royal Hibernian Academy, em Dublin; Town Hall Gallery, na Austrália; Adelphi University, em Nova York; e Museu de Arte Contemporânea, na Bolívia.
Seu trabalho tem sido veiculado em publicações como Art in America, Huffington Post, Wired, The Atlantic, VISION Magazine: China, e na monografia "Vestir", publicada pela Decode Books.
Foi destaque na ABC News 20/20 e fez participação recente no Sexto Encontro Mundial de Arte Corporal em Caracas, Venezuela, bem como uma exposição individual no Magnan Metz em Nova York em Dezembro de 2014, tendo outra agendada para este ano na plataforma Gallery, em Seattle.
Ariana recebeu seu MFA da Universidade de Washington, Seattle, em 2005.
O interesse pelo seu trabalho adveio do encontro com a imagem que causou o cartaz de nossas jornadas. Num primeiro momento algo de uma leveza, delicadeza e harmonia conquistaram o olhar, apontando para o singelo do feminino, contudo, do mesmo modo e com a mesma intensidade, se assim posso dizer, mostrava abertamente um estranho: cortes? ... Cicatrizes?... Dor...? Do que se tratava?
A pesquisa já nos dissera que uma invenção e não uma mutilação estava em jogo, o que despertou mais o desejo de incluir seu trabalho em nossa jornada. LEIA MAIS...
SOBRE A ARTISTA E A SKIN ...
Paola Salinas*
Boletim Calidoscópio #4
Editorial
Neste número de Calidoscópio avançamos no trabalho sobre a temática de nossa próxima Jornada, trazendo contribuições que estabelecem uma interlocução entre a psicanálise e o campo da arte e da cultura, além da clínica psicanalítica que se apresenta através da leitura de uma das produções de Silvia Salman ao final de sua análise.
Marcelo Veras nos apresenta um agudo questionamento acerca das expressões da sexualidade no contemporâneo, estabelecendo o fundamento do sempre atual ‘mal estar na civilização’: o que do gozo não encontra ajuste em termos plurais, “pois todo falasser tem que se virar com o Outro sexo... que não existe.”
No campo da arte temos o texto de Bianca Coutinho Dias que nos traz um trabalho penetrante sobre a fotografia de Francesca Woodman ao lado do comentário de Maria Cecília Galletti Ferretti que nos instiga a assistir o filme “Uma nova amiga”.
Estes dois textos nos colocam na vertente das tentativas de construção de um corpo – o que já se anuncia no texto de Maria Cecília – em meio aos embaraços do falasser.
Ainda na via da invenção de um corpo, da ‘escrita de um corpo’, podemos acompanhar a entrevista que Paola Salinas faz com a artista que nos dá a imagem do cartaz de nossa Jornada.
O texto de Maria Fátima Pinheiro que destaca elementos de um depoimento de Sílvia Salman, vem nos trazer “o mistério do corpo que fala”, naquilo que a analista nos transmite em termos do percurso de um ‘corpo a deriva’ ao ‘encarnada’.
A obra de arte, tal como diz Bianca “vê a invisibilidade do visível”, enquanto a clínica psicanalítica nos traz o ‘mistério do corpo falante’.
Boa leitura a todos!
Cristiana Gallo
CALIDOSCÓPIO - BOLETIM DAS JORNADAS DA EBP-SP
"CORPO DE MULHER"
Direção de Redação - Bernadette Pitteri
Revisão Crítica - Daniela Affonso
Edição e Montagem- Maria Marta Rodrigues Ferreira
Colaboração - Cristiana Gallo
Coordenação das Jornadas - Paola Salinas
DIRETORIA DA EBP-SP
Diretor Geral - Rômulo Ferreira da Silva
Diretora Secretária - Alessandra Pecego
Diretora de Biblioteca - Teresinha N. M. do Prado
Diretora de Cartéis - Valéria Ferranti