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Nó Borromeano por Thais Orsi

  Isso me deu certo alívio. É sobre algo que não se sabe que tenho que falar. Logo, será apenas uma fala ficção, uma invenção, pois não se pode dizer o feminino, o que não se sabe, mas tocar nisso

pelas bordas. 

 

  A partir do que disse Simone de Beauvoir, inspirada pela psicanálise(1), “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”(2), proponho dizer, com relação ao corpo, que o corpo de mulher não existe, inventa-se um. Esta ideia me acalmou e pude passar a construir uma fala sobre as invenções do corpo que talvez permita até pensar que o corpo que interessa à psicanálise é sempre, no final das contas, um corpo de mulher, desde que possamos separar o termo mulher da noção de gênero, para estendê-lo ao feminino que contrasta com o saber e o poder dos discursos fálicos.

 

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Um Corpo de Mulher - da Imagem ao gozo: Heloísa Caldas AME da EBP/AMP

 

Atividade preparatória para as Jornadas da EBP-SP 2015

 

Coordenação: Paola Salinas

 

Comentários: Maria Josefina Sota Fuentes

 

RASTROS DEIXADOS PELA PASSAGEM (DO CORPO) DE MARINA ABRAMOVIC POR SÃO PAULO

 

Fabiola Ramon (correspondente da Seção São Paulo da EBP)

 

  “Na ocasião de minha morte eu gostaria de receber a seguinte cerimônia em minha homenagem: três ataúdes. O primeiro ataúde com o meu corpo real. O segundo ataúde com uma imitação de meu corpo. O terceiro ataúde com uma imitação do meu corpo. [...] Após a cerimônia, haverá um banquete com um grande bolo feito de marzipã, na forma e aparência do meu corpo. Quero que o bolo seja distribuído para as pessoas presentes ”

 

(Marina Abramovic. In: Quando Marina Abramovic Morrer)

 

  A exposição Terra Comunal – Marina Abramovic + MAI ocupou completamente o SESC Pompeia, em São Paulo, de março a maio deste ano. Além de uma retrospectiva com obras seminais da carreira da artista, incluindo instalações, objetos, retratos, vídeos e pôsteres, a exposição contou também com uma proposta extremamente inventiva denominada Terra Comunal MAI – do Instituto Marina Abramovic. Houve performances com oito artistas selecionados especialmente para a mostra, encontros presenciais com Marina Abramovic e a apresentação e disponibilização ao público do “Método Marina Abramovic”, tentativa da artista de transmitir algo de sua relação de corpo com os objetos, um dos pontos centrais de suas performances, e reinventar linguagens artísticas e escrituras feitas a partir do corpo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Resenha: Capítulos dos Seminários 19 e 23

 

Sílvia Sato (membro da EBP/AMP)

 

  A noção de Corpo de Mulher poderia ser tomada como algo claro, se não fosse tema de uma Jornada Psicanalítica, o que nos exige situar o corpo e a mulher para podermos falar de um corpo de mulher. Indo além da marca da ausência do pênis, que permite a inscrição de uma falta na imagem do corpo, esta resenha visa localizar, em duas partes de dois seminários de Lacan, a particularidade do gozo de uma mulher, na relação com a castração e com o real.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  No Seminário 19, capítulo 7 - A parceira desvanecida (1), Lacan percorre a linguagem para sustentar que dela se produz a pergunta sobre a diferença dos sexos e que da função fálica se induz a pergunta sobre a diferença entre dois parceiros.

 

  A partir da lógica das proposições, mais especificamente com a disjunção, onde duas proposições não podem ser falsas ao mesmo tempo, Lacan conclui que há uma discórdia entre o lado homem e o lado mulher das fórmulas da sexuação, pela inconsistência das universais, ou seja, de um lado, ‘Existe um que não está inscrito na função fálica’ e de outro, ‘Não existe um que não está inscrito na função fálica’, sendo a segunda a negativa da primeira. Ele considera a segunda proposição, ‘Não existe um que não está inscrito na função fálica’, para sustentar que a mulher, pelas melhores razões, não poderia ser castrada.

 

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Resenha: Laurent, D. “A origem do mundo e seus semblantes”.

(In: Papers 6 - Boletim Eletrônico do Comitê de Ação da Escola-Una - 2009-2010)

 

Claudia Aldigueri

 

  No texto, “A origem do mundo e seus semblantes”, Dominique Laurent escolhe como eixo de articulação a arte - “armadilha do olhar” -, fazendo um passeio que começa com Praxíteles com a representação do primeiro corpo feminino nu, na Grécia antiga, passando pelas mulheres desnudas nas pinturas de Courbet, Giorgone, Goya, Tintoretto, Tiziano, culminando com “O êxtase de Santa Teresa”, de Bernini, intensamente trabalhado no Seminário 20, Mais,ainda. Longa trajetória, na qual Dominique tenta responder o que essas representações do corpo da mulher tornam visível e mantêm invisível ao olhar do observador – o visível fálico e o invisível feminino, o invisível de seu gozo. 

 

  Segundo ela, Lacan situa a aparição de corpos femininos atravessados pelo gozo, no Ocidente, durante o período barroco. Até então, mesmo com representações eróticas fálicas, o gozo para além do falo se mantinha fora dessas representações. Desvelar a mulher parecia tarefa impossível ao mundo artístico ocidental, não importando a técnica utilizada com esse fim, os reflexos, os espelhos, por exemplo. Mulheres desnudas, porém não desveladas, mantidas recobertas por um véu, até mesmo em se tratando de “A origem do mundo” de Courbet.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  Eis que o século XVII chega marcado pela genialidade técnica do escultor barroco Bernini: esculturas cujas mulheres, inteiramente cobertas, denunciam na expressão facial o atravessamento do corpo por um gozo singular. Ninguém, tão bem quanto Bernini, não só com Santa Teresa, mas com outras esculturas, soube representar esse atravessamento.

 

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Resenha: Lista bibliográfica de Freud relacionada ao tema “Corpo de mulher”

 

Ana Paula Sartori Lorenzi

 

 

  Ler Freud sob o prisma do “Corpo de mulher”, tema das próximas Jornadas da EBP-SP, remete inicialmente aos “Estudos sobre a histeria” (1893-1895) e ao“corpo da histeria” apresentado ali, com sua profusão de sintomas. Estes sintomas corporais, conversivos, estruturam-se naquilo que Freud chama de complacência somática, e formam uma ampla lista. Alguns deles são a paralisia, a afasia, a contração, a cegueira, a tussisnervosa,  a caimbra,  a convulsão, o tremor, a perturbação da visão etc. O corpo da histeria, nos primórdios da psicanálise, se manifestava por meio desses diversos sintomas conversivos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                                                                                                      

 

                                                                                                                                                                          (LEIA MAIS)

 

 

 

  Em seguida, encontramos os trabalhos de Freud sobre a etiologia sexual das neuroses, em que a ênfase está na sexualidade, no corpo como zona erógena, passível de fixação pulsional. Poder-se-ia dizer que a abordagem de Freud do “corpo de mulher” propriamente, para além do corpo da histeria, toma mais vulto quando inicia a diferenciação do complexo de Édipo no menino do complexo de Édipo na menina. Ele elabora uma teoria da sexualidade feminina relacionada ao complexo de castração, ressaltando a passagem de menina à mulher, também no que se refere ao corpo: “do clitóris à vagina”, como ele destaca no artigo “Sexualidade feminina” (1931), do autoerotismo ao narcisismo, do narcisismo à erotização ou falicização do corpo, até chegar à sexualidade madura e à maternidade.

"Frêmito do meu corpo a procurar-te, /Febre das minhas mãos na tua pele  /Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel, ..."

 

 

RÔMULO: ENTRE CLÉRAMBAULT E LEMOINE

 

                                                                                                                                                                                   Blanca Musachi

 

   No dia 4 de julho de 2015, sábado, realizou-se a VI Feira EOL Urbana no Centro Cultural Borges, em Buenos Aires. O teatro, o designer de indumentária, as artes plásticas e a publicidade tiveram lugar junto à clássica Feira do livro da EOL. A EOL Urbana 2015 foi organizada por Irene Greiser, Paula Husni e Elsa Maluenda. Na oportunidade, Rômulo Ferreira da Silva fez uma original intervenção sobre os drapeados de Clerembault, cuja continuação reproduzimos. Trata-se de um artigo para refletir também sobre os vestidos e o corpo de mulher, no caminho das jornadas 2015 da EBP-SP.

 

                                                                                                                                                     Rômulo Ferreira da Silva

 

   Ao ser convidado para este evento, imediatamente fiz duas associações: Gaëtin Gatian de Clérambault e Genie Lemoine.

 

  Clerambault foi um importante psiquiatra francês, considerado por Jacques Lacan seu único mestre em psiquiatria. Viveu de 1872 até 1934, quando se suicidou em frente ao espelho com um tiro na boca. Estava rodeado de manequins e seus modelos de drapeados.

 

  Ele descreveu quadros psiquiátricos graves nos quais as mulheres apareciam com profundo apego aos tecidos, principalmente a seda. Tal apego as levava a cometer delitos ao tocar e roubar os tecidos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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"Doído anseio dos meus braços a abraçar-te, ... "

 

 

UM CORPO DE MULHER, DA IMAGEM AO GOZO

 

                                                                                                                                       Heloisa Caldas (AME - EBP-AMP)

 

  

 Agradeço muito ao Diretor da EBP-SP, Rômulo Ferreira da Silva, por este convite, assim como aos colegas aqui presentes, pela atenção.

 

  O título que me foi proposto – corpo de mulher – me deixou, a princípio, muito alegre. Não poderia dizer o porquê, mas parecia tão simples falar disso. Mas a ilusão de que não seria difícil tratar do assunto, durou poucos minutos. Em seguida, angustiada, sinal de que meu corpo é sensível ao enigma do desejo do Outro, acalmei-me com as indicações bastante conhecidas de Freud e Lacan sobre a mulher: “O que quer uma mulher?”, pergunta um, na aurora da luta feminista do século; “A mulher não existe”, declara o outro, acirrando mais ainda o debate.

 

"Sede de beijos, amargor de fel, Estonteante fome, áspera e cruel... "

"Que nada existe que a mitigue e a farte! E vejo-te tão longe! Sinto tua alma..."

"Junto da minha, uma lagoa calma,/ A dizer-me, a cantar que não me amas..."

"E o meu coração que tu não sentes, / Vai boiando ao acaso das correntes,/ Esquife negro sobre um mar de chamas... "

Frêmito do Meu Corpo a Procurar-te, Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas" 

"Olhos buscando os teus por toda a parte,..."

   Daí a se interessar pelos drapeados parece ter sido um passo rápido. Como médico psiquiátrico, participou da primeira grande guerra e, no Marrocos, iniciou sua pesquisa sobre a maneira que se constituía o drapeado nas várias regiões da África e ao longo da história. Deu aulas na Escola de Belas Artes e propunha uma classificação minuciosa dos drapeados, alegando ser esse conhecimento algo precioso para aqueles que se diziam pintores orientalistas.

 

 

Jornadas da EBP-SP 2015 - Corpo de Mulher

 

Conferência e Discussão

 

Um Corpo de Mulher - da Imagem ao gozo: Heloísa Caldas AME da EBP/AMP

 

 

 Marina Abramovic, tida como a “Rainha da arte performática”, é uma das artistas contemporâneas mais conhecidas e respeitadas da atualidade. O campo da performance tem como alicerce o corpo como suporte para a criação artística. 

 

  O poder e a eficácia do nome “Marina Abramovic” produz efeitos nos corpos daqueles que circulam por entre suas obras e nas cidades por onde passa. Em Nova York, por exemplo, Marina pulsa como figura latente no campo da arte, mesmo quando não está em nenhuma mostra ou exposição da cidade.

 Calidoscópio #2

Boletim das Jornadas da EBP-SP
 
Corpo de Mulher
 
 6 e 7 de Novembro    Convidada: Marie-Hélène Brousse                                                                            (AME da ECF)

Boletim Calidoscópio #2        

Editorial

 

  Preparando as Jornadas da EBP-SP, "Corpo de Mulher" em clima de "Império das Imagens", de ENAPOL, apresentamos o Calidoscópio número 1: o 0 iniciou a série. O vídeo-entrevista com Marie-Hélène Brousse realizado por Fernanda Turbat, durante suas andanças por Paris, propõe a questão: "o que evoluiu no 'Império das Imagens' desde a época de Lacan?"

 

  Rômulo Ferreira da Silva, Diretor Geral da Seção São Paulo e um dos diretores executivos do ENAPOL, participou da "Feira EOL Urbana", em Buenos Aires. Citando Clérambault e Génie Lemoine, fez uma  articulação com a moda, que recobre "todos os seres submetidos à castração", sendo que as mulheres "experimentam com muito mais facilidade o fenômeno de não serem seus corpos".

 

  O texto de Heloísa Caldas, que trabalha o tema das Jornadas, começa com indicações de Freud e Lacan afirmando não se poder dizer o feminino, mas tocá-lo pelas bordas, o que ela faz de modo primoroso. Clicando no Podcast ao final do texto, podemos ouvir sua transmissão, mas o texto ora apresentado acrescenta um comentário perspicaz sobre o testemunho de Luiz Fernando Carrijo da Cunha, passe que oferece singular exemplo do corpo feminino e seu gozo independente de anatomia e "gênero".

 

  "Calidoscópio" continua no texto elaborado por Fabíola Ramon, que mostra os rastros deixados pela passagem do corpo da performática Marina Abramovic por São Paulo.

 

  Das resenhas, material precioso para estudos e referências, Sílvia Sato pinça capítulos dos Seminários 19 e 23 de Lacan para localizar a particularidade do gozo de uma mulher na relação com a castração e com o real; Cláudia Aldigueri explora o texto de Dominique Laurent “A origem do mundo e seus semblantes” para tentar responder no que as representações do corpo da mulher tornam visível e mantêm invisível, ao olhar do observador, o invisível de seu gozo; Ana Paula Sartori Lorenzi visita e propõe textos de Freud sob o prisma “Corpo de Mulher”.

 

  Nos interstícios, Florbela Espanca, "A mensageira das Violetas", fala do "Frêmito do meu corpo a procurar-te".

Textos precisos e instigantes:recomendo a leitura.

 

M. Bernadette S. de S. Pitteri (EBP/AMP)

 

 

 

CALIDOSCÓPIO - BOLETIM DAS JORNADAS DA EBP-SP

"CORPO DE MULHER"

 

Direção de Redação - Bernadette Pitteri

Revisão Crítica - Daniela Affonso

Edição e Montagem- Maria Marta Rodrigues Ferreira

Colaboração - Cristiana Gallo

Coordenação das Jornadas - Paola Salinas

 

DIRETORIA DA EBP-SP

Diretor Geral - Rômulo Ferreira da Silva

Diretora Secretária - Alessandra Pecego

Diretora de Biblioteca - Teresinha N. M. do Prado

Diretora de Cartéis - Valéria Ferranti

 

O império das imagens - Marie Hélène Brousse [parte 1 e 2]

 

Fernanda Azevedo Turbat entrevista Marie Hélène Brousse sobre o império das imagens.

 

Duração: 6:30 min e 8:20 min

 

Legenda: Português Brasil (Ativar legenda no painel do vídeo)

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