top of page

Editorial

 

Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri*

 

 

 

 

Posso pensar "Corpo de Mulher" como algo do feminino

incondicional, que não depende de, não está sujeito a, é fora da lei.

 

A mulher que não existe, não existe por não se submeter a um

universal e, por não existir, precisa criar-se, inventar-se a cada

passo. Cora Coralina, poeta goiana, em "Todas as Vidas" fala de seu feminino multifacetado, de sua criação mulher.

 

Se parte do não-todo feminino é incondicional, escapa ao Falo e sua regulação, podemos ainda dizer que parte do não-todo submete-se ao Falo? O mundo pós-tudo em que vivemos escapa do Simbólico falo-orientado, que se apresenta fraturado, escapa à Lei, à regulação fálica, assim como o feminino da mulher não-toda  (S de A barrado) também escapa. Nosso momento civilizatório desconfia da Lei, o Simbólico perde seu poder regulador. A qual civilização aportaremos com o incondicional feminino? Longe das veleidades românticas de doçura, fragilidade e delicadeza (fantasias falo-orientadas), mesmo que não saibamos para onde caminhamos, podemos apostar que não haverá retorno ao império do Falo, não se volta ao Paraíso, para sempre perdido: a espada flamejante do Anjo se apagou, quebrou-se em mil pedaços e o próprio Anjo sentou-se, cansado do peso de anos de civilização fálica, cansado de chamar pelo velho Pai que não mais responde.

 

Sílvia Salman, respondendo à Paola Salinas e Cristiana Gallo, fala da construção de um corpo de mulher e da anorexia, discussão sobre seu passe. César Skaf comenta o texto onde Marie-Hélène Brousse retoma de Freud o Caso Dora e A Jovem Homossexual, abordando a homossexualidade feminina longe da histeria. Veridiana Marucio comenta um vídeo de humor negro, ao mesmo tempo risível e incômodo, sobre o feminino que pode surgir do bisturi da ciência. Eduardo Camargo Bueno resenha o livro de Maria Josefina, "As Mulheres e seus nomes: Lacan e o feminino", que aborda o enigma do feminino de Freud a Lacan.

 

Questões candentes que nos levam em direção às Jornadas da EBP-S 2015, "Corpo de Mulher".

 

*EBP/AMP

 

 

Vive dentro de mim/ uma cabocla velha/ de mau-olhado,/ acocorada ao pé do borralho,/ olhando para o fogo./ Benze quebranto./ Bota feitiço… / Ogum. Orixá. / Macumba, terreiro./ Ogã, pai-de-santo…

Vive dentro de mim/ a lavadeira / do Rio Vermelho./ Seu cheiro gostoso / d’água e sabão./ Rodilha de pano./ Trouxa de roupa,/ pedra de anil./Sua coroa verde /de São-Caetano.

UM CORPO DE MULHER ENTREVISTA SILVIA SALMAN*

Paola Salinas e Cristiana Gallo**

 

Durante o ENAPOL tivemos a grata alegria de conversar com Silvia Salman, e convidá-la a responder algumas questões para o Calidoscópio.

 

O tema Corpo de mulher foi abordado por ela de modo simples e ao mesmo tempo enigmático, remetendo a um texto que teremos o prazer de publicar futuramente.

 

Cristiana Gallo: Considerando um dos eixos de pesquisa da nossa jornada, o corpo de mulher na clínica, o que você poderia nos dizer acerca da construção de um corpo que se conta como mulher ao final da análise? Você entende que o encarnada em sua experiência analítica poderia apontar para uma articulação entre imaginário e real, se pensarmos que esse encarnada articula consistência corpórea ao vivo do corpo?

LEIA MAIS...

 

 

Vive dentro de mim/ a mulher cozinheira. /Pimenta e cebola. / Quitute bem feito./ Panela de barro./ Taipa de lenha./ Cozinha antiga / toda pretinha./ Bem cacheada de picumã./ Pedra pontuda./ Cumbuco de coco./ Pisando alho-sal.

AS HOMOSSEXUALIDADES FEMININAS:

QUANDO NÃO SE TRATA DE HISTERIA

Cesar Skaf*

 

Em um texto seu que vem sendo muito comentado, Marie-Hélène Brousse, no que tange à pluralidade das homossexualidades femininas, apresenta os dois paradigmas de pesquisa do campo psicanalítico desde Freud: o caso Dora e a jovem homossexual. Se Dora se caracterizou por alguns tropeços na direção do seu tratamento, decorrentes do desconhecimento de Freud das correntes homossexuais mais profundas que precisam ser calculadas no tratamento das histerias, já no caso da jovem homossexual «o solitário» preferiu recusar-lhe a análise. E o fez por considerar estar diante de um caso de perversão. LEIA MAIS...

 

 

Vive dentro de mim/ a mulher do povo./ Bem proletária./ Bem linguaruda,/ desabusada,/ sem preconceitos,/ de casca-grossa,/ de chinelinha,/ e filharada.

ANATOMIA

Veridiana Marucio*

 

No intuito de levantar questões que possam conversar com o tema da nossa próxima jornada da EBP-SP, Corpo de Mulher, fui convidada a fazer uma reflexão a respeito do vídeo Atlas élémentaire d'anatomie! (https://www.youtube.com/watch?v=U-jegbXC270&authuser=0).

 

O avanço da ciência e a lógica de consumo da sociedade atual afetam a relação do sujeito com o corpo: o culto à imagem atrela sucesso, felicidade, aceitação a um corpo ideal. Soma-se a isso o discurso publicitário, que promete um corpo perfeito, eterno, jovem. LEIA MAIS...

 

Vive dentro de mim/ a mulher roceira./ -Enxerto de terra,/ Trabalhadeira./ Madrugadeira./ Analfabeta./ De pé no chão./ Bem parideira./ Bem criadeira./ Seus doze filhos,/ Seus vinte netos.

AS MULHERES E SEUS NOMES: LACAN E O FEMININO

Eduardo Camargo Bueno

 

Em “As mulheres e seus nomes: Lacan e o feminino”, tese de doutoramento de Maria Josefina Sota Fuentes, publicada em livro pela editora Scriptum, encontramos um percurso teórico de Freud a Lacan sobre o enigma do feminino que mostra “a força e relevância da psicanálise” no debate com os outros discursos sobre o feminino, tais como o discurso feminista e o discurso da ciência, que participaram “da retirada das mulheres dos bastidores do campo social”. LEIA MAIS...

Vive dentro de mim/ a mulher da vida./ Minha irmãzinha…/ tão desprezada,/ tão murmurada…/ Fingindo ser alegre/ seu triste fado.

                 Cora Coralina, "Todas as vidas".

Todas as vidas/ dentro de mim:/ Na minha vida -/ a vida mera/ das obscuras!

 Calidoscópio #9

Boletim das Jornadas da EBP-SP
 
Corpo de Mulher
 
 6 e 7 de Novembro    Convidada: Marie-Hélène Brousse                                                                            (AME da ECF)

Boletim Calidoscópio #9está no ar!!!          

CALIDOSCÓPIO - BOLETIM DAS JORNADAS DA EBP-SP

"CORPO DE MULHER"

 

Direção de Redação - Bernadette Pitteri

Revisão Crítica - Daniela Affonso

Edição e Montagem- Maria Marta Rodrigues Ferreira

Colaboração - Cristiana Gallo

Coordenação das Jornadas - Paola Salinas

 

DIRETORIA DA EBP-SP

Diretor Geral - Rômulo Ferreira da Silva

Diretora Secretária - Alessandra Pecego

Diretora de Biblioteca - Teresinha N. M. do Prado

Diretora de Cartéis - Valéria Ferranti

bottom of page