AS MULHERES E SEUS NOMES: LACAN E O FEMININO
Eduardo Camargo Bueno
Em “As mulheres e seus nomes: Lacan e o feminino”, tese de doutoramento de Maria Josefina Sota Fuentes, publicada em livro pela editora Scriptum, encontramos um percurso teórico de Freud a Lacan sobre o enigma do feminino que mostra “a força e relevância da psicanálise” no debate com os outros discursos sobre o feminino, tais como o discurso feminista e o discurso da ciência, que participaram “da retirada das mulheres dos bastidores do campo social”.
Desde a introdução, a autora deixa claro o que orientará sua investigação: “Contrariamente ao feminismo que resume o feminino a uma mera construção discursiva e refuta a diferença sexual, procuramos demonstrar que se A mulher não existe, segundo o aforismo de Lacan, o feminino insiste, não como categoria que daria enfim consistência à mulher como gênero, mas como um real que afeta o ser falante, sobre tudo as mulheres, e que requer soluções de ambos os sexos diante da foraclusão do significante dA mulher no inconsciente.”
O desenvolvimento de sua investigação se divide em duas partes. A primeira, “As mulheres e o feminino na cultura”, subdividida em três capítulos que partem da mulher mal-dita, percorre os dizeres de Freud e Lacan sobre o feminino. A segunda parte, “Soluções e impasses ao feminino”, a partir de uma leitura histórica e clínica da vida de quatro mulheres que estiveram presentes nos percursos de Freud e Lacan: Berta Pappenheim – Anna O. – A jovem homossexual, Helen Deutsch e Margueritte Duras/Lol V. Stein, a autora localiza as soluções para o impasse diante do feminino para cada uma delas à luz de Freud e Lacan.
No momento de concluir, a autora salienta a oportunidade do debate com o discurso feminista para “rever conceitos, reformular fundamentos”, reafirmando a diferença sexual a partir dos desdobramentos do último ensino de Lacan além do Seminário 20, apontando coordenadas para o debate provocado pelo argumento destas Jornadas “Corpo de mulher”. "A" mulher não existe e é justamente dessa exclusão da linguagem que elas se ressentem... Trata-se de outra forma de dizer o impasse do penisneid isolado por Freud, que não se dissolve com nenhuma revolução das mulheres na cultura, ainda que a luta de um feminismo inicial tenha sido crucial: que o falo como significante pudesse finalmente cifrar o modo feminino de recuperar o gozo, que se abre justamente onde nenhum predicado poderia exprimi-lo, onde não há "O" nome definitivo que venha selar o encontro entre palavras e um corpo que não se localiza. Alhures, o gozo feminino expande-se no terreno onde não encontra barragens que o detenha.”
Conclusão que não se ilude quanto à situação dos homens frente ao corpo, uma vez que o corpo feminino como corpo mutilado em relação ao corpo masculino, não orienta mais a clínica psicanalítica. "Nesse sentido, o ser falante é não-todo e qualquer identidade que venha a assumir repousa sobre o impossível do real da diferença sexual que não se simboliza.