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Editorial

 

PALAVRAS QUE FALTAM

 

Paola Salinas

 

Tomo essa expressão do texto de Carmen Cervelatti, que nos apresenta uma interessante discussão acerca da histeria e o corpo de mulher.

 

O que fazer com o gozo feminino que habita os corpos? Como pensar isso em articulação à histeria?

O tema de nossa Jornada é um convite a dizer sobre o indizível, a fazer com as palavras que faltam.

O embaraço e a angústia com o corpo é algo com o que cada um precisa lidar para manter seu ser no mundo.

 

Cynthia Freitas nos conta da invenção radical de Teresa D´Avila, do seu saber fazer com o gozo que a extrapolava, não sem o gozo fálico. E nos aponta o fato de o feminino lacaniano romper com “a anatomia e as questões de gênero, designando uma satisfação 'suplementar' e não 'complementar', que não se fecha jamais em um todo”.

 

Assim, os efeitos desse gozo que escapam ao todo são sentidos nos corpos, ao mesmo tempo que colocados a céu aberto de várias formas, quer sobre a forma de violência, pornografia, misoginia, enfim, formas de recusa ao feminino na cultura.

 

Patrícia Badari exemplifica um desses destinos do feminino na atualidade, a parir da exposição do corpo “não-sabido” nas redes sociais e da tentativa singular de apropriar-se dele novamente, feita pela jovem Emma Holten. De outro modo, Blanca Musachi aponta outra apropriação, não menos singular ou decisiva para o sujeito que a empreende. Ela nos fala de ORLAN, do seu trajeto no corpo, entre dentro e fora, talvez não um corpo de mulher, mas como Um corpo.

 

Assim, seguimos na indagação a respeito das palavras que faltam para dizer o indizível, ao mesmo tempo, como nos lembra Carmen, que sentimos o efeito causado “pelo corpo das palavras que faltam”.

Os textos que vocês encontram aqui nos movem um pouco mais em direção a uma formulação possível.

 

Boa Leitura!

 

 

 

 

 

 

 

De tanto esperar pelo meu olhar,/ enrubesceu. Aguardou-o / anos a fio / mas emana dela ainda /

Deixou o conforto da família e o devotado amor de seu pai para dedicar-se à vida religiosa tendo como causa a reforma do Carmelo – Ordem das Carmelitas Descalças. Criticava fortemente a oposição entre a ação e contemplação, defendendo que encontramos Deus mesmo no trabalho mais ínfimo e trivial. “Entendei que até mesmo na cozinha, entre as caçarolas, anda o Senhor”3. LEIA MAIS...

a mesma timidez / igual esperança. Há / (quem sabe) / uma indagação impossível/ na boca rubra e natural.

CORPO "FOTO-GRAFADO"

Patricia Badari*

Um clik e um sujeito pode ter o corpo fotografado. Mas, também em um clik, pode-se ter o corpo "foto-grafado". O que é um corpo? Seria a imagem ali capturada? Pode-se dizer que aquele é o corpo de uma determinada mulher, por exemplo? Ou, o que ali se foto-grafa?

Em 2011, a jovem Emma Holten recebe milhares de mensagens e e-mails com fotos suas.

“Uma foto: eu, nua, no quarto escuro do meu ex-namorado. Dezessete anos, um pouco esquisita, ligeiramente curvada para frente: uma tentativa inofensiva de parecer sexy.

Outra foto: dois anos mais tarde, no meu quarto em Uppsala, Suécia. Mais velha, um pouco mais confiante, mas não muito.Estava claro o que havia acontecido: as fotos agora estavam online.” (1) LEIA MAIS...

A aura do objeto/ mistura-se a seu cabelo/ como se a existência/ tivesse transcendido o momento / em que por certo nos encontraríamos.

CORPO DE MULHER, UMA INTERPRETAÇÃO DA HISTERIA

Carmen Silvia Cervelatti*

 

Em seus Estudos sobre a Histeria, Freud demonstra, em todo frescor de suas primeiras descobertas, o poder da incidência da palavra na sexualidade, nos corpos que falam. As histéricas falam, falam... Também as mulheres: elas não sabem o que dizem!, disse Lacan. Freud descobriu o inconsciente colocando-se como parceiro da histérica, ao interpretar a sua fala. Lacan deu estatuto de discurso a este quadro clínico: um sintoma que se articula e se endereça a um significante que interpreta os vários sentidos deste sintoma ($ --> S1), produzindo o saber inconsciente, tendo o objeto no lugar da verdade. Sabemos que Lacan introduziu o dispositivo analítico enquanto histerização; a histeria, neste contexto, revela o inconsciente.

 

Em 1977, Lacan se diz embaraçado com a seguinte afirmação: “coloquei um pavimento no campo de Freud” (1), um andar a mais que as representações. Ao inconsciente deu corpo, mediante a topologia do nó borromeano. Com isso, o falasser substitui o inconsciente freudiano. Nem por isso a histeria deixou de servir à psicanálise. Neste mesmo texto, Lacan confessou que não deixou de ser guiado pelas histéricas “naquilo que ainda temos ao alcance como histérica”. A cadeia significante a ser decifrada está ligada ao corpo, graças à substância gozante, o significante é causa material do gozo. Levando-se em conta estas últimas considerações de Lacan sobre a histeria, em que medida podemos aproximá-la do falasser? LEIA MAIS...

Malgrado estar eu aqui –/ tudo nela ainda espera por mim.

ORLAN: UM NOME, UMA OBRA PARA UMA SINGULAR EXPERIÊNCIA CORPORAL

Blanca Musachi*

“Não a decifrei. Mas ela também não me decifrou”C.L.**

 

Nascida na França, em 1947, Mireille Suzanne Francette Porte, ORLAN é uma artista multimidiática mundialmente conhecida e reconhecida pelas audazes performances cirúrgicas realizadas em seu corpo e em algumas ocasiões transmitidas ao vivo via satélite para galerias e museus. S’habiller de sa propre nudité (nome de uma obra de 1976) propõe o que experimenta no corpo: a dissolução dos limites entre o dentro e o fora, entre o público e o privado, tema transversal em toda sua carreira artística.

 

Desde os anos sessenta até a atualidade, modifica seu corpo de forma permanente e contínua através de operações cirúrgicas. Antes das cirurgias que começaram em 1990, através das quais modificou definitivamente seu aspecto físico, o trabalho de ORLAN não se diferencia muito do trabalho de outras artistas feministas que tentam construir identidades múltiplas através de diversas caracterizações. No começo, seu trabalho foi principalmente de performances, fotografias, instalações, questionando o imaginário feminino ocidental construído pela da historia da arte. Durante dez anos, antes dos anos 90, trabalhou sobre o tema da identidade feminina na iconografia cristã, utilizando sua própria imagem em um contexto barroco profundamente herético. LEIA MAIS...

MARIA LÚCIA DAL FARRA, Retrato de mulher de frente

SANTA TERESA, HOJE1

Cynthia Farias*

 

No encontro entre a arte e a psicanálise é imprescindível recorrer a Lacan para afirmar que a arte sabe, sem a psicanálise, aquilo que a psicanálise ensina2. Principalmente quando o que está por ser dito é o que Lacan definiu como o impossível de dizer: o gozo feminino.

Representação máxima desse gozo que excede a norma fálica, Santa Teresa D’Ávila impôs sua experiência mística através dos séculos, como enigma aos que creem e aos que não creem. Impossível não se deixar fascinar pela mulher, empreendedora, escritora e poeta de rara inteligência.

 Calidoscópio #14

Boletim das Jornadas da EBP-SP
 
Corpo de Mulher
 
 6 e 7 de Novembro    Convidada: Marie-Hélène Brousse                                                                            (AME da ECF)

Boletim Calidoscópio #14 está no ar!!!          

CALIDOSCÓPIO - BOLETIM DAS JORNADAS DA EBP-SP

"CORPO DE MULHER"

 

Direção de Redação - Bernadette Pitteri

Revisão Crítica - Daniela Affonso

Edição e Montagem- Maria Marta Rodrigues Ferreira

Colaboração - Cristiana Gallo

Coordenação das Jornadas - Paola Salinas

 

DIRETORIA DA EBP-SP

Diretor Geral - Rômulo Ferreira da Silva

Diretora Secretária - Alessandra Pecego

Diretora de Biblioteca - Teresinha N. M. do Prado

Diretora de Cartéis - Valéria Ferranti

PROGRAMA DAS JORNADAS DA EBP-SP 2015

CORPO DE MULHER

 

DIA 06/11 – Sexta-feira

 

15h00           CREDENCIAMENTO

 

16h00           ABERTURA

 

                     Rômulo Ferreira da Silva (Diretor da EBP-SP/AME/AMP)

                     Paola Salinas (Coordenadora das Jornadas/EBP-SP/AMP)

 

16h20           PLENÁRIA: “(IN)CONSISTÊNCIAS DO CORPO DE    MULHER”

 

                    Antônio Teixeira : “Esplendor e miséria do feminino”(EBP-MG/AMP)

                    Roberto Zular : “O corpo entre a voz e a escuta: uma leitura do causo Maria                                                           Mutema de Guimarães Rosa”. (Prof. Dr. do Departamento de Teoria                                               Literária e Literatura    Comparada da FFLCH-USP)

                    Maria do Carmo Batista : “Frida Kahlo e as mulheres surrealistas do México” (EBP-                                                                SP/AME/AMP)

 

                     Comentários: Maria JosefinaFuentes(EBP-SP/AMP)

                     Coordenação:Carmem Cervelatti(EBP-SP/AMP)

 

18h20           CONFERÊNCIA: Marie-HélèneBrousse (ECF/AME/AMP)

                     Coordenação: Jorge Forbes (EBP-SP/AME/AMP)

 

 

DIA 07/11 – Sábado

 

8h00            MESAS SIMULTÂNEAS

 

13h00          Almoço

 

14h00          PLENÁRIA DO PASSE: “TESTEMUNHOS DOS ANALISTAS DA ESCOLA”

 

                   Gabriela Grinbaun: “Lidar com o feminino” (EOL/AE/AMP)

                   Luiz Fernando Carrijo da Cunha: “Versões do feminino” (EBP- SP/AE/AME/AMP)

 

                   Comentários: Marie-Hélène Brousse (ECF/AME/AMP)

                   Coordenação: Maria Cecília Galletti Ferretti (EBP-SP/AMP)

 

16h00         PLENÁRIA: “A PARTIÇÃO SEXUAL E O CORPO FALANTE NA EXPERIÊNCIA                                                    ANALÍTICA HOJE”

 

                   Valéria Ferranti : “Fazer-se um corpo”(EBP-SP/AMP)

                   Ariel Bogochvol: “sexo, erotismo, libertinagem, pornografia” (EBP-SP/AMP)

                   Angelina Harari: “Ser o sintoma de outro corpo” (EBP-SP/AME/AMP)

 

                   Comentários : Marcus André Vieira (Diretor do X Congresso da AMP/EBP-

                                          RJ/AE/AME/AMP)

                   Coordenação : Heloísa Telles (EBP-SP/AMP)

 

18h00         Coffe-break

 

18h30         CONFERÊNCIA: Marie-Hélène Brousse (ECF/AME/AMP)

                   Coordenação: Cássia Rumenos Guardado (EBP-SP/AMP)

 

20h30         ENCERRAMENTO

                   Alessandra Pecego Diretora Secretária da EBP-SP (EBP-SP/AMP)

 

 

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