Editorial
AS MULHERES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
Maria Bernadette Soares de Sant´Ana Pitteri *
A sucessão interminável de males que assola a condição humana veio através da mulher, criada pelos deuses por ordens de Zeus para castigar os homens. Deus, no “Velho Testamento”, cria o homem e tira dele uma costela, moldando-lhe uma companheira que, seduzida pela serpente, é considerada, desde então, vetor da queda do homem, do mal que o arranca do paraíso e o faz “comer o pão com o suor de seu rosto”. Com o advento do cristianismo, a mãe de Deus será concebida sem pecado original e virgem: o ideal de virgindade e pureza para as mulheres toma conta da humanidade, mas, no mesmo movimento em que surge a virgem, surge a outra, a prostituta, a degradada. Os gregos viam “A mulher” criada com os dons de todos os deuses (Pandora), assustadora; os judeus “A mulher” ambiciosa e passível de ser enganada e enganar; os cristãos, para encarar o insuportável, dividem “A mulher” em santa e prostituta. Sedutora e inocente, ingênua e ambiciosa, virgem e imaculada que faz surgir a outra: enfim eis aquela que é plena de contradições. As jornadas da EBP-SP propõem "Corpo de Mulher" como tema, corpo adorado, enaltecido, maltratado, estuprado.
Neste Calidoscópio, Leny Mrech fala sobre Frida Kahlo e seu corpo sofrido, sua paixão por Diego Rivera, parceiro-sintoma. E termina dizendo que "...Frida Kahlo conseguiu construir o seu escabelo. Uma vida que ultrapassou a própria vida através de sua pintura e que a fez ser reconhecida como a maior pintora mexicana." Rejane Tito traz notas do filme Phoenix onde Nelly reconstrói o rosto e a vida e na cena final, a "... inscrição (no corpo, na carne, na pele) do código a que foi reduzida nos campos de concentração, marca do gozo mortífero do Outro, divide espaço com a voz que canta, corpo que goza." Por último, Eduardo Benedicto entrevista Heloísa Buarque de Almeida sobre "Corpos de mulheres violentadas".
*EBP/AMP
Neste início de tarde / fim de manhã do verão
FRIDA KAHLO: MAIS ALÉM DO PRÓPRIO SOFRIMENTO
Leny Mrech*
A história de Frida Kahlo é atualíssima. Está na crista da onda. Sua exposição, em São Paulo, retrata muitos dos momentos de sua vida extremamente angustiada e infeliz.
Nascida Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon foi uma grande vanguardista de sua época, sendo feminista antes do próprio feminismo. Seu pai era um fotógrafo famoso - Guillermo Kahlo - e sua mãe, Matilde Calderon y Gonzales, uma mestiça.
Pode-se dizer que, de cada um dos genitores, Frida extraiu traços marcantes que ressurgiriam ao longo da sua obra: os retratos quase fotografias, e a dedicação à cultura do seu povo. É nela que podemos encontrar não apenas um corpo falante, mas um corpo que gritava a plenos pulmões.
A sua vida foi marcada por inúmeros problemas físicos e trinta e cinco cirurgias. Aos seis anos teve poliomielite, que deixou várias sequelas: um dos pés atrofiados e uma perna mais fina do que a outra. Frida escondia essas condições físicas em amplas saias rodadas, com desenhos que a tornavam uma pessoa extremamente exótica. Apresentava-se, também como uma mulher do povo.
Momentos de virada: o encontro com o real LEIA MAIS...
o sol me divide / nas várias mulheres
PHOENIX
Rejane Tito*
Phoenix, do diretor Christian Petzold, filme forte e grave. Narra a história de Nelly, cantora judia que sobrevive a Auschwitz. Com a ajuda de Lene, sua amiga, viaja à Suíça para uma operação de reconstrução do rosto deformado. Em Berlim, reencontra seu marido, trabalhando na boate Phoenix, que não a reconhece, mas, percebendo semelhanças com sua
mulher, propõe-lhe que se passe por Nelly, dada como morta, para receber a herança da família morta na guerra.
Assistimos a uma possível reconstituição subjetiva. A reconstrução do rosto destruído remete-nos ao corpo que não se é, mas que se tem, e a que ter um corpo é estar submetido à linguagem. No filme, acompanhamos a reconstituição deste corpo de linguagem. Recorro a Lacan, em “O Estádio do Espelho”, à função do eu para a psicanálise, ao ato de reconhecimento da própria imagem no espelho do Outro.
O desejo de reencontro com o marido parece significar um reencontro com significantes que possam recompor seu corpo: uma foto da atriz que admirava, sobretudo por seu cabelo e por sua maquiagem. LEIA MAIS...
Boletim Calidoscópio #13 está no ar!!!
CALIDOSCÓPIO - BOLETIM DAS JORNADAS DA EBP-SP
"CORPO DE MULHER"
Direção de Redação - Bernadette Pitteri
Revisão Crítica - Daniela Affonso
Edição e Montagem- Maria Marta Rodrigues Ferreira
Colaboração - Cristiana Gallo
Coordenação das Jornadas - Paola Salinas
DIRETORIA DA EBP-SP
Diretor Geral - Rômulo Ferreira da Silva
Diretora Secretária - Alessandra Pecego
Diretora de Biblioteca - Teresinha N. M. do Prado
Diretora de Cartéis - Valéria Ferranti
FRIDA KAHLO: MAIS ALÉM DO PRÓPRIO SOFRIMENTO
Leny Mrech*
A história de Frida Kahlo é atualíssima. Está na crista da onda. Sua exposição, em São Paulo, retrata muitos dos momentos de sua vida extremamente angustiada e infeliz.
Nascida Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon foi uma grande vanguardista de sua época, sendo feminista antes do próprio feminismo. Seu pai era um fotógrafo famoso - Guillermo Kahlo - e sua mãe, Matilde Calderon y Gonzales, uma mestiça.
Pode-se dizer que, de cada um dos genitores, Frida extraiu traços marcantes que ressurgiriam ao longo da sua obra: os retratos quase fotografias, e a dedicação à cultura do seu povo. É nela que podemos encontrar não apenas um corpo falante, mas um corpo que gritava a plenos pulmões.
A sua vida foi marcada por inúmeros problemas físicos e trinta e cinco cirurgias. Aos seis anos teve poliomielite, que deixou várias sequelas: um dos pés atrofiados e uma perna mais fina do que a outra. Frida escondia essas condições físicas em amplas saias rodadas, com desenhos que a tornavam uma pessoa extremamente exótica. Apresentava-se, também como uma mulher do povo.
Momentos de virada: o encontro com o real LEIA MAIS...
o sol me divide / nas várias mulheres
PHOENIX
Rejane Tito*
Phoenix, do diretor Christian Petzold, filme forte e grave. Narra a história de Nelly, cantora judia que sobrevive a Auschwitz. Com a ajuda de Lene, sua amiga, viaja à Suíça para uma operação de reconstrução do rosto deformado. Em Berlim, reencontra seu marido, trabalhando na boate Phoenix, que não a reconhece, mas, percebendo semelhanças com sua mulher, propõe-lhe que se passe por Nelly, dada como morta, para receber a herança da família morta na guerra.
Assistimos a uma possível reconstituição subjetiva. A reconstrução do rosto destruído remete-nos ao corpo que não se é, mas que se tem, e a que ter um corpo é estar submetido à linguagem. No filme, acompanhamos a reconstituição deste corpo de linguagem. Recorro a Lacan, em “O Estádio do Espelho”, à função do eu para a psicanálise, ao ato de reconhecimento da própria imagem no espelho do Outro.
O desejo de reencontro com o marido parece significar um reencontro com significantes que possam recompor seu corpo: uma foto da atriz que admirava, sobretudo por seu cabelo e por sua maquiagem. LEIA MAIS...
que me antecederam / e nas que virão
CORPOS DE MULHERES VIOLENTADAS
Entrevista concedida por Heloísa Buarque de Almeida*
Eduardo Benedicto**
Eduardo Benedicto - Gostaria de começar esta entrevista, a partir do que compartilhamos recentemente, quando debatemos um filme no Cinecult na USP-Ribeirão: como você analisa a transformação da cultura brasileira, se é que houve, e se aconteceu de maneira significativa, considerando a visão da "provocação" por parte da mulher, num caso de abuso sexual e estupro, versus a responsabilidade social e criminal do homem nos dias de hoje?
Heloísa Buarque de Almeida
Eu não vou falar da “cultura brasileira” pois isso seria algo muito amplo, estamos num país muito heterogêneo, há muitas diferenças em termos de regiões, cidades, grupos sociais distintos. Acho que vivemos uma situação em que esta diferença de visões é muito
evidente. O país está vendo um congresso extremamente conservador querer voltar atrás em leis e regras de direitos importantes, como o tal Estatuto da família, ou uma proposta de lei que impede o atendimento pós-estupro que temos hoje no país, e que ainda precisava ser expandido. LEIA MAIS...
grávidas de luas / na fase obscura
com um abismo / no peito
ANGÉLICA TORRES, Mulheres
PROGRAMA DAS JORNADAS DA EBP-SP 2015
CORPO DE MULHER
DIA 06/11 – Sexta-feira
15h00 CREDENCIAMENTO
16h00 ABERTURA
Rômulo Ferreira da Silva (Diretor da EBP-SP/AME/AMP)
Paola Salinas (Coordenadora das Jornadas/EBP-SP/AMP)
16h20 PLENÁRIA: “(IN)CONSISTÊNCIAS DO CORPO DE MULHER”
Antônio Teixeira : “Esplendor e miséria do feminino”(EBP-MG/AMP)
Roberto Zular : “O corpo entre a voz e a escuta: uma leitura do causo Maria Mutema de Guimarães Rosa”. (Prof. Dr. do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH-USP)
Maria do Carmo Batista : “Frida Kahlo e as mulheres surrealistas do México” (EBP- SP/AME/AMP)
Comentários: Maria JosefinaFuentes(EBP-SP/AMP)
Coordenação:Carmem Cervelatti(EBP-SP/AMP)
18h20 CONFERÊNCIA: Marie-HélèneBrousse (ECF/AME/AMP)
Coordenação: Jorge Forbes (EBP-SP/AME/AMP)
DIA 07/11 – Sábado
8h00 MESAS SIMULTÂNEAS
13h00 Almoço
14h00 PLENÁRIA DO PASSE: “TESTEMUNHOS DOS ANALISTAS DA ESCOLA”
Gabriela Grinbaun: “Lidar com o feminino” (EOL/AE/AMP)
Luiz Fernando Carrijo da Cunha: “Versões do feminino” (EBP- SP/AE/AME/AMP)
Comentários: Marie-Hélène Brousse (ECF/AME/AMP)
Coordenação: Maria Cecília Galletti Ferretti (EBP-SP/AMP)
16h00 PLENÁRIA: “A PARTIÇÃO SEXUAL E O CORPO FALANTE NA EXPERIÊNCIA ANALÍTICA HOJE”
Valéria Ferranti : “Fazer-se um corpo”(EBP-SP/AMP)
Ariel Bogochvol: “sexo, erotismo, libertinagem, pornografia” (EBP-SP/AMP)
Angelina Harari: “Ser o sintoma de outro corpo” (EBP-SP/AME/AMP)
Comentários : Marcus André Vieira (Diretor do X Congresso da AMP/EBP-
RJ/AE/AME/AMP)
Coordenação : Heloísa Telles (EBP-SP/AMP)
18h00 Coffe-break
18h30 CONFERÊNCIA: Marie-Hélène Brousse (ECF/AME/AMP)
Coordenação: Cássia Rumenos Guardado (EBP-SP/AMP)
20h30 ENCERRAMENTO
Alessandra Pecego Diretora Secretária da EBP-SP (EBP-SP/AMP)