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UM CORPO DE MULHER ENTREVISTA SILVIA SALMAN*

 

Paola Salinas e Cristiana Gallo**

Durante o ENAPOL tivemos a grata alegria de conversar com Silvia Salman, e convidá-la a responder algumas questões para o Calidoscópio.

 

O tema Corpo de mulher foi abordado por ela de modo simples e ao mesmo tempo enigmático, remetendo a um texto que teremos o prazer de publicar futuramente.

 

Cristiana Gallo: Considerando um dos eixos de pesquisa da nossa jornada, o corpo de mulher na clínica, o que você poderia nos dizer acerca da construção de um corpo que se conta como mulher ao final da análise? Você entende que o encarnada em sua experiência analítica poderia apontar para uma articulação entre imaginário e real, se pensarmos que esse encarnada articula consistência corpórea ao vivo do corpo?

Silvia Salman: Penso que uma experiência analítica acrescenta um plus à consistência do corpo do analisante, se assim posso dizer: um a mais de vida.

 

Ao corpo mortificado pelo significante ou velado pela imagem fálica, se conecta a solidez de um vazio e a presença de um real que se obtém como suplemento ao longo da cura. No meu caso, poderia nomear esse produto da análise como uma erótica do acontecimento de corpo.

 

O encarnada entranha a carne, o vivo e o feminino em uma consistência tridimensional que o desenho animado, enquanto o bidimensional de uma imagem, mantinha aplainado. Deste modo, o corpo (e a experiência de gozo que se aloja nele), adquire um relevo na análise, que se manifesta nos modos de tê-lo e de usá-lo.

 

Paola Salinas: Em seu caso singular, a anorexia quando você era um bebê, parece ter o estatuto de uma marca na carne, com a consequente produção de um gozo opaco e mortífero articulado ao Outro materno. Poderíamos pensar que a afetação do corpo da menina se articularia de alguma forma ao corpo materno? Ou seja, antes do Édipo, algo teria sido transmitido, quase sem palavra, entre mãe e filha?

Silvia Salman: Penso a anorexia como um acontecimento de corpo enodado ao gozo do Outro materno. Fechar a boca até quase desaparecer foi a resposta precoce ao enigma daquilo que pôde ser lido na análise como a melancolia na mãe. Tal como o coloca Lacan no Seminário 11 (Lacan, J. O Seminário, Livro 11. Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Jorge Zahar Ed., Rio de Janeiro, 1985, p.204.) quando se refere à operação de constituição do sujeito, a fantasia de desaparição é o primeiro objeto que o sujeito propõe como resposta ao enigma do desejo materno. Essa resposta inicial, efetivamente antes do Édipo,  marcou  um   modo  de  funcionamento  libidinal  que  foi 

 

sendo dialetizado na análise. Primeiro sob a forma do corpo da histeria, ou seja, sob o regímen do pai, que tomou seu lugar tanto no sintoma como na fantasia. E, ao final, um pouco além, sob a forma de um corpo de mulher, lugar de um novo regímen de satisfação que implica um menos do padecimento do sentido edípico e um mais de consentimento a uma erótica própria do desejo.

 

Paola e Cristiana: Passado algum tempo do seu relato de final de análise, no qual você dizia que se tratava de “por vezes ter um corpo”, você ainda enunciaria dessa forma essa relação ao corpo? Depois desse período, o que você tem podido elaborar nesse sentido?

 

Silvia Salman: Para responder esta pergunta envio-lhes anexo um texto que acabou sendo um pós-testemunho, já que o apresentei na Mesa do Passe do Simpósio de Miami, mas nesse momento minha função como AE já havia terminado. No final deste texto, vocês encontrarão os últimos avanços e ideias que pude fazer sobre meu caso. Podem extrair dali alguma resposta...

 

*AME e AE (de dezembro de 2009 a dezembro de 2012) da EOL.

** EBP/AMP

Tradução: Paola Salinas

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