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UMA NOVA AMIGA

Maria Cecília Galletti Ferretti *

O filme “Uma nova amiga” do diretor François Ozon que estreou há pouco tempo em São Paulo, estando ainda em cartaz, é bastante fecundo para as reflexões que hoje têm lugar na psicanálise lacaniana. Para citar apenas alguns destes temas, podemos salientar: a imagem do corpo, a questão do gênero, as formas através das quais, hoje, é exercida a sexualidade, os lugares de pai e mãe, a amizade entre as mulheres, etc. Há também o tema do crossdresser em relação ao qual podemos encontrar um bom número de textos e pesquisas realizadas por setores da cultura os mais diversos.

 

Dentre os eixos temáticos escolhidos para as Jornadas da EBP-SP 2015, Corpo de mulher, há um em especial que apresenta aspectos ressaltados pelo filme: Corpo sexuado no século XXI. Há uma pergunta que acompanha este eixo: como se fabricam os corpos hoje? O filme mostra, de forma especial, como um corpo masculino pode fabricar um corpo, em sua aparência, feminino. O corpo masculino produz, assim, uma imagem de um corpo de mulher, sem, no entanto, convencer a todos, dada a sua estranheza. O dono deste corpo, apesar de todo o trabalho na fabricação, encontrava um gozo que lhe era imprescindível.

Há uma cena que privilegio. Trata-se do momento no qual o personagem é surpreendido dando mamadeira para sua filha, ele próprio vestido de mulher. Ele explica, então, à amiga que o surpreende, que sua filha recém-nascida não queria mamar, por isso, veste-se de mulher e, ainda mais, veste-se como sua mulher falecida há pouco e mãe da pequena criança. O bebê, a partir deste momento, toma sua mamadeira! O efeito no infans é imediato. A criança se enganara? O poder da imagem foi contundente? O gozo daquele corpo travestido imperou?

 

Um corpo de mulher se apresentou à criança e aqui, mais especificamente, um corpo de mãe.

 

* MEMBRO DA EBP/AMP

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