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SINTOMA E TRANSEXUALISMO

Luiz Gonzaga Sanseverino Junior*

Sabemos que o sintoma é uma resposta ao Um do falasser.

 

Um é o encontro do significante com o corpo que, quando traumático, faz acontecimento de corpo, o que influenciará o sujeito ao longo de sua vida, fornecendo a maneira de como será enodado R S I, pela via do quarto nó, isto é, seu modo de funcionar, seu sinthoma.

Então vamos ao trailer do filme A Garota Dinamarquesa, que conta a historia de um homem que, ao posar para sua esposa artista, descobre-se mulher.

(Interessante trabalhar a partir de um trailer https://www.youtube.com/watch?v=vjq2FgjpXow que, funcionando como recortes de vida, pode ser pensado como o que se escuta em análise.)

 

A contingência é a falta de modelo, o que o faz entrar neste lugar e experimentar uma posição psíquica nunca antes conhecida, embora no filme ele diga que isso sempre esteve lá.

 

Recupero um trecho de sua fala: “... penso como Lili. Sonho seus sonhos... ela sempre esteve lá”.

Portanto, seria interessante nos perguntarmos sobre o que causou para este Ser a ideia de que “isso sempre esteve lá”.

 

Podemos pensar que a contingência o faz num primeiro momento focar sua atenção, seu sentimento, nos objetos do feminino, gerando certa questão sobre sua identidade sexual que leva ao desejo de Ser mulher.

No filme, o contato com as roupas, com as festas, desde sua nova posição feminina, vai fazendo aparecer nele Outra imagem de si própri-a: “... houve um momento em que eu não era eu, um momento em que eu era apenas... Lili”.

 

Sentir-ser olhada pelo Outro, desde esta nova posição, desencadeia nele, novo desejo, tão forte que a leva a uma cirurgia de troca de sexo.

 

Cito Anaelle Lebovits-Quenehen, que ensina sobre a diferença essencial entre travestis e transexuais: “enquanto os primeiros são e permanecem homens vestidos de mulher e se esforçam para que seu vestuário característico guarde a "marca do falso", os segundos têm a íntima convicção de serem do sexo oposto ao seu sexo biológico”.

 

Então, se pensarmos a partir da perspectiva de um tratamento psicanalítico, podemos nos interessar pelo que causou ou é causa disso que poderia ser entendido como seu sintoma. Sabemos que a direção da analise é ir de S2 a S1, visando encontrar o que faz marca ao ser falante e é responsável por seu gozo. No caso de Lili, a hipótese que a história deixa, é de que ele, ao se transformar, encontra uma nova maneira de funcionar, Mulher-sinthoma em sua função de quarto nó, levando-a a se encontrar com uma certa forma de satisfação, embora tendo que lidar com o custo de seu desejo.

 

*EBP/AMP

 

Bibliografia

Quenehen, Anaelle Lebovits.“Travestismo”, in Scilicet, A Ordem Simbólica no Século XXI, BH, editora Scriptum, pag. 401, 2011.

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