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        Para tanto, M.H. Brousse se propõe a falar da identificação. Destaca, então, ser, para Lacan, fundamental “a ligação orgânica entre o inconsciente freudiano e a linguagem”, expressa na asserção “o inconsciente é estruturado como uma linguagem. A autora cita Lacan, em 1970, na Universidade John Hopkins, em Baltimore: “... Há apenas um tipo de linguagem: a linguagem concreta – inglês ou francês – que as pessoas falam. O inconsciente é um pensamento com palavras, com pensamentos que escapam à sua vigilância, a seu estado de vigilância”. O inconsciente sexual não é instinto; ele é dito na linguagem corriqueira que falamos. Os processos de identificação, que permitem a cada sujeito se representar sexuado, são processos de linguagem. As línguas faladas são ordenadas por um binário fundamental: homem/mulher. Na análise, vemos que o que significa hoje “ser um homem” ou “ser uma mulher” são enunciados diferentes dos do tempo de Freud, porém o mecanismo subjetivo envolvido é o mesmo. Por isso, a Psicanálise trata a questão do gênero através das identificações.

 

Na experiência analítica, segundo M. H. Brousse, o gênero é veiculado pelas identificações sexuais em dois registros:

 

1 – Registro simbólico

 

Primeiro, uma identificação com as palavras, significantes, que são também exigências de papéis e lugares. Homens e mulheres são seres do discurso. O discurso é o que constitui o laço social que é o laço sexual. “É, portanto, a ordem simbólica que define um “ser mulher” e um “ser homem”, categorias de discurso que prescrevem lugares, papéis sociais, bem como modos de gozo diferenciados”. Os analistas podem escutar nos divãs divisões internas que decorrem de identificações contraditórias e a nova escolha que tem que ser feita por cada sujeito.

 

2 – Registro imaginário

 

Há também identificações com imagens, cuja matriz é a imagem especular. Participam do discurso, mas partem da dimensão do imaginário, tal como Lacan a definiu a partir da relação específica do pequeno ser humano com sua própria imagem no espelho. No registro imaginário, podemos afirmar que há homens e mulheres, como na maior parte do reino animal. Estas categorias dizem respeito à imagem corporal, pois se baseiam na percepção da imagem que pode diferenciar o sexo na maioria das espécies: cores, formas, tamanhos, etc. Nos seres humanos, essas diferenças de imagem são redobradas ou corrigidas pelos marcadores sociais, ou seja, simbólicos. A força da marca produzida pela percepção imediata de imagens – tanto do corpo global como de seus componentes – compensa a falta de consistência material do "want to be" simbólico. Força, então, a passar do macho ao homem e da fêmea à mulher. A referência a uma “naturalidade” do gênero – essencial na tradição religiosa em particular – é devida a esse recobrimento do significado e dos lugares simbólicos pela imagem e sua suposta naturalidade. Na análise, mulheres testemunham embaraço com o próprio corpo, dificuldade em assumi-lo, aceitá-lo. Isso se agrava cada vez mais, com os modelos difundidos massivamente por uma civilização que se agita mais e mais em imagens, e se impõe de forma planetária. Elas também testemunham a necessidade de cada uma de definir seu corpo de acordo com sua história singular, segundo suas próprias normas imaginárias.

 

Os gametas têm um gênero? Pergunta a autora, e explica:

 

A paisagem se complica com a biologia, onde a reprodução não é nem o fato das identificações simbólicas, nem o das identificações imaginárias, e sim recai no real sobre a diferença entre o espermatozoide e o óvulo. No nível do real, o masculino e o feminino são reduzidos às células e se emancipam de referências que antes constituíam a imagem global do corpo e do discurso do mestre. Esses três níveis, hoje mais precisamente diferenciados, exigem dos sujeitos decisões mais individuais e mais solitárias do que no passado. Também requerem uma amarração e oferecem às mulheres, e também aos homens, mais oportunidades quanto à diversidade de escolhas de vida e de modos de gozo. A superioridade ancestral atribuída ao masculino tanto quanto a suposta complementariedade entre homem e mulher não são mais unanimidade. Perderam a propriedade da verdade que a crença lhes dava. Freud já tinha constatado que era somente um mito, não resistindo à realidade da análise dos laços entre homens e mulheres. A mesma constatação levará Lacan a formular o seu “não há relação sexual” que possa ser escrita entre homem e mulher. “Relação” no sentido de uma lei natural. O que implica que, entre os sujeitos que falam, só há ligação pelo discurso. Essas ligações evoluem constantemente. Nada pode pretender ser uma lei eterna e ter valor universal. Essa mudança de paradigma do discurso implica novos desejos e sintomas inéditos. É neste nível individual que intervém o discurso analítico. Ele oferece um espaço de fala, de palavra, que pode derrubar as identificações obsoletas relativas a enunciados e imperativos congelados. O que torna possíveis escolhas decididas de acordo com o real com o qual cada um, cada uma, é confrontado.

 

A experiência analítica é, em relação ao gênero, organizada pelo seguinte princípio, que também vale para os supostos homens e as supostas mulheres: cada um tem que construir sua própria definição de gênero. "O ser sexual só se autoriza a partir de si mesmo... e de alguns outros. É nesse sentido que ele tem a escolha”. (Lacan, Seminário 21, Os não tolos erram, lição de 09 de abril de 1974, não publicado.)

 

 

Comentário de texto

Cássia M. R. Guardado

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“O que a Psicanálise sabe das mulheres como gênero” de Marie Hélène Brousse

 

               A autora pretende, nesse texto, destacar “algumas luzes que a Psicanálise pode lançar sobre a discriminação sofrida pelas mulheres”. Ressalta que a contribuição da Psicanálise para a causa das mulheres consiste em lhes “oferecer a palavra, escutá-las testemunhar, uma por uma, em sua diversidade, suas dificuldades com o feminino”, não se pretendendo, em nenhum caso, formular enunciados normativos sobre os desejos que as impulsionam,  ou os conflitos que as dividem. Mas, pode mobilizar o funcionamento psíquico necessário para encontrar soluções capazes de satisfazer os sujeitos.

 

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